Depois de usar iPhone por 10 anos, experimentei um Android

Saiba como foi a minha experiência "traindo" a minha marca favorita.

Alessandro Cauduro
9 min readSep 11, 2018

Em 2007, a Apple surpreendeu o mundo com o lançamento do primeiro iPhone, o que revolucionou o mercado dos smartphones. Ele era muito superior a todos aparelhos existentes até então. Foi também nessa época que eu comprei o meu primeiro smartphone e segui trocando por novos modelos, sempre da marca, ao longo dos anos.

Desde lá, marcas que eram líderes de mercado como Nokia e Blackberry deixaram de ser relevantes. Tentativas de gigantes de tecnologia como a Microsoft e HP de entrar no espaço mobile também fracassaram. Só restou, o Android, que o Google adquiriu em 2005 e lançou no final de 2007 como um concorrente ao iOS de padrão aberto para fabricantes e operadoras de celular.

No Brasil, o Android atualmente representa cerca de 85% do mercado. Isso tem uma razão econômica: ele tem versões bem acessíveis de diversos fabricantes, além da Apple não se ajudar ao praticar preços absurdos em nosso país. Apesar de ser somente a terceira maior fabricante de aparelhos no mundo, a Apple é a empresa mais lucrativa por ter se posicionado em uma categoria premium.

Eu trabalho com inovação, sou CEO da Huia, estúdio de tecnologia, e apesar de criamos soluções Android para nossos clientes, eu não tinha tido a experiência de usá-lo como o meu aparelho pessoal. Para ter uma opinião mais embasada, eu queria colocar em prática o ditado:

"Before you judge a man, walk a mile in his shoes"

Ou seja, era importante usar para saber quais seriam os pontos fortes e fracos e se estava perdendo algo que não enxergava por viver exclusivamente no mundo IOS há tanto tempo.

Partiu desafio: iPhone X vs Galaxy S9

No final do ano passado, esse sentimento pegou mais forte e em uma viagem eu quase comprei um Google Pixel 2, mas no fim optei pelo iPhone X. Eu estava bem feliz com o novo aparelho até o dia em que recebi uma oferta do banco com um desconto de mil reais para comprar um Galaxy S9, topo de linha da Samsung, recém lançado, e ainda poderia pagar em 10x. Com esse desconto, o aparelho ficaria quase a metade do preço do iPhone X no Brasil e mais barato até que nos EUA! Aproveitei a oferta para finalmente realizar o desafio dos flagships da Apple e Samsung.

Minha idéia inicial era testar o Galaxy por 30 dias e depois escrever sobre a minha experiência. Na vida real, as coisas não foram tão simples! Demorei quase 3 meses até achar o "momento certo" para fazer a troca e usei por 120 dias, bem mais que o planejado. Agora relato a minha experiência.

Como migrar de plataforma

Para minimizar as dores de cabeça, me preparei e antes de qualquer coisa e pesquisei os problemas que poderia encontrar durante a migração de dados de um aparelho para o outro.

A Samsung facilita o processo de troca com um aplicativo chamado Switch. Ele conecta na sua conta do iCloud, descobre todos os Apps que você tem instalado no iPhone e baixa eles para o seu Galaxy. Demora um pouco esse processo, mas funciona. Além disso, como a maioria dos dados já ficam na núvem e eu utilizo soluções do Google GSuite no trabalho (email, calendário, drive, contatos, etc…) o processo transcorreu de forma suave.

Felizmente, todos os aplicativos que eu usava com frequência também existiam para Android e foram instalados. A única etapa que me frustou foi não conseguir migrar o histórico do WhatsApp, que é criptografado de maneira diferente no Android e iOS. Perdi um bom tempo pesquisando o assunto, mas decidi desapegar do histórico de conversas e seguir em frente. Importante: na hora em que você migrar o SIM de um aparelho para o outro você não conseguirá mais abrir o WhatsApp no outro.

Depois de instalado os apps, é preciso fazer o login neles novamente. Portanto, tenha anotado as suas senhas! Dependendo do banco, talvez também seja necessário ir a um caixa eletrônico para autorizar o aparelho no mobile banking.

Primeiros sentimentos

Depois que decidi migrar, em algumas horas já tinha trocado o chip, mas continuava andando com os dois aparelhos, por via das dúvidas, com receio de que faltasse algo. Alguns dias depois, vi que não era mais necessário e poderia viver só com o Android.

Apesar de ter tudo que eu precisava no Galaxy, a mudança do jeito de fazer as coisas me gerava um pouco de descontentamento com a novidade. Não amei de cara o leitor de email do Google. Segurar o aparelho com uma mão também não era tão natural, apesar dele ser mais fino. O destravar do Galaxy com a impressão digital, na parte de trás do aparelho, em vez do FaceID, foi o que levou mais tempo para eu me acostumar. Me conscientizei que era normal esse período de adaptação, pois mesmo na troca do IPhone 6 para o X tive um estranhamento com a falta do botão home, que hoje não me faz falta alguma.

Depois da rejeição inicial, os dias seguintes foram surpreendentes até para mim, um Apple fan boy, pois fui aos poucos me acostumando com o novo jeito de fazer algumas coisas e deixando de ficar tão irritado, e logo já comecei a pensar: "até que poderia me acostumar com isso" :-).

Coisas boas do Galaxy

Aos poucos fui desvendando coisas que deixavam o meu dia-a-dia mais fácil no mundo Android:

  • Gostei que o teclado da Samsung tinha a funcionalidade de swipe para digitar mais rápido, mas ainda achava os botões pequenos. Então me recomendaram o teclado GBoard do Google, que tem um teclado melhor e a mesma funcionalidade e um autocomplete que funciona muito bem, inclusive melhor do que do iOS. Depois descobri que ele também tem versão para iPhone.
  • Consegui utilizar o Samsung Pay para pagamento pelo celular pela primeira vez, já que o meu banco (Santander) ainda não tem Apple Pay.
  • Arquivos de backup e fotos ficam no Google Drive para acesso direto! Isso é muito bom, pois a Apple parece que faz de tudo para esconder o acesso pelo iCloud/iTunes, e isso é muito irritante.
  • Muitos programas que não eram permitidos no mundo Apple eu poderia instalar. Especialmente os que me ajudam a baixar vídeos do Facebook e YouTube para compartilhar :-)
  • Descobri que podia usar adaptadores USB-C que já tinha no meu Macbook, como por exemplo: ligar o celular na TV pelo HDMI sem ter de comprar um novo adaptador. Ainda não experimentei outros.
  • O Google Assistant é disparado o meu assistente de voz predileto e infinitamente mais inteligente que a Siri. Para usar ele basta segurar o botão home que ele é acionado. Uma coisa irritante da Samsung é que tem um botão exclusivo para o assistente Bixby, mas que não pode ser mudado para ter outra funcionalidade. Mas é possível desativar ele, e foi o que fiz. Veja esse vídeo para uma solução definitiva.
  • Apesar de ter uma pequena diferença nas especificações (174g vs 163g), o S9 é notavelmente mais leve que o iPhone X.
  • A quantidade de opções ao se clicar no botão compartilhar é muito grande!
  • As notificações funcionam melhor e tem mais recursos.

Coisas que não gostei tanto

  • Apesar das notificações serem melhores, não gostei da tela de lock screen do Galaxy que continua mostrando conteúdo antigo até que ele seja apagado mesmo depois de destravar o aparelho.
  • O botão de voltar não é tão intuitivo quando usar um gesto de arrastar a tela para voltar que funcione em quase todos apps iPhone.
  • Copiar fotos para o computador não é tão intuitivo quanto usar o AirDrop ou a sincronização automática do iCloud entre aparelhos.
  • Para ligar a tela é preciso apertar um botão, no iPhone basta levantar o aparelho.
  • Para ativar o leitor de QR Code é preciso usar o browser de internet da Samsung e ativar uma extensão (só descobri isso pesquisando). No iPhone a câmera já reconhece automaticamente.
  • Inconsistências de interface: No Facebook e Instagram que são duas redes socias da mesma empresa, no primeiro os botões ficam na parte de cima da tela e no segundo na parte de baixo. Enquanto que no iPhone os botões estão sempre na parte de baixo.
Instagram na esquerda e Facebook na direita.
  • Outro exemplo disso é o teclado numério que as vezes tem o botão de apagar na direita ou na esquerda e isso é confuso.
Santander Way vs Santander mobile banking

Empate técnico

  • Ambos possuem telas OLED/AMOLED de excelente qualidade fabricadas pela Samsung. Sempre acho curioso que uma hora as empresas são concorrentes diretos e outra hora parceiros comerciais. Na tela da Samsung as cores são calibradas com os tons mais vibrantes e fica um pouco artificial na primeira impressão.
  • Ambos contém excelentes câmeras, apesar de eu gostar mais das fotos no modo Portrait da Apple.
  • Ambos são rápidos para quase todas atividades.
  • A bateria dura o dia todo em ambos aparelhos com uso moderado. O iPhone X foi o primeiro aparelho da Apple que fico tranquilo e não preciso mais ficar levando o carregador comigo com medo de ficar sem bateria. Para fazer a bateria de ambos durar ainda mais, tem ainda dois truques:

a) Usar um papel de parede "pure black", pois as telas são OLED/AMOLED e os pixels quando são pretos não gastam energia. Em testes, isso chega a economizar até 60% de bateria!

b) O S9 apesar de anunciar a tela de altíssima resolução Quad HD+(2960x1440), na prática vem por padrão habilitado o modo Full HD+(2200x1080) que já tem uma imagem excelente e poupa bateria.

Últimas versões e durabilidade

Apesar de eu ter o celular mais novo da Samsung, O Android 9 (Pie), que é a versão mais recente do sistema, lançada em julho, ainda não tem previsão de disponibilidade para o meu smartphone. Esse é um dos grandes problemas da diversidade de aparelhos Android, pois a cada nova versão os fabricantes precisam adaptar o software ao seu hardware e isso depende da boa vontade de cada um. A Samsung ao menos tem uma política clara: promete 3 anos de atualização. Enquanto isso, o IOS 12, que está para ser lançado, vai funcionar já no dia do lançamento para aparelhos com mais de 5 anos. Essa é uma das grandes vantagens de ser dono do software e do hardware.

Na prática, o retrato é que em agosto de 2018 apenas 12% dos usuários Android estavam com a versão 8 depois de 14 meses do lançamento. Enquanto isso, 25% dos usuários iPhone já estavam já na última versão do IOS 11 depois de apenas uma semana do lançamento.

Isso também dificulta a vida dos desenvolvedores de apps, que não podem se dar o luxo de utilizar os últimos recursos do sistema, e além disso, a quantidade de aparelhos existentes, que dificulta os testes e isso acaba resultando em mais bugs nos apps Android. Meu Android travou diversas vezes no meu uso, inclusive em ligações telefônicas que precisei desligar o aparelho para encerrar.

Nos EUA, uma pesquisa recente mostrou que um iPhone perde de 30–40% de valor no primeiro ano vs quase 60% nos Samsung. Acredito que isso também aconteça por aqui , mas que a desvalorização seja bem menor.

E qual vou continuar usando ?

Depois de 4 meses usando o Galaxy como aparelho principal, posso dizer que senti falta de poucas coisas no iPhone. Essa foi uma das razões que meu experimento durou mais tempo do que o planejado: me acostumei e não existia uma razão forte o suficiente para voltar imediatamente para o iPhone.

Considero que iPhone tem mais refinamento na experiência do usuário: as animações são mais suaves, a integração com o ecossistema Apple ( Mac, AppleTV, AppleWatch, iPad) que permite fazer coisas como receber telefonemas no computador ou iPad, facilmente continuar uma tarefa de um device no próximo e até usar a camera do celular para inserir conteúdo em uma apresentação. Além disso, você vai estar sempre com as últimas novidades logo que são anunciadas. Esses são os grandes diferenciais, mas que não se justificam a tamanha diferença de preço se você quer só um celular.

Portanto, a minha opinião é vá de iPhone se você não se importa em gastar mais e ter algumas restrições impostas para viver no mundo integrado da Apple. Agora se busca um celular tão bom quanto, pode optar por um Android que vai ter quase todos os mesmos recursos por um custo menor.

A experiência foi bem legal, mas por agora vou voltar para o iPhone X para conhecer explorar o IOS12, que será lançado nos próximos dias com muitas novidades. Ao mesmo tempo, já estou curioso com o lançamento do Google Pixel 3. Alguém quer comprar um Galaxy S9? Brincadeirinha, vou continuar com ele para o trabalho :-)

Esse texto é apenas a minha opinião e o objetivo não era fazer uma comparação exaustiva. O tema é polêmico e as pessoas tem opiniões fortes sobre o seu celular e logo não vão concordar com tudo que eu disse. São como duas religiões diferentes, mas na minha experiência eu encontrei mais similaridades entre eles do que diferenças. #pas

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Alessandro Cauduro
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Written by Alessandro Cauduro

Technology and sports enthusiast. Chief AI Officer @ azion.com

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